PM versus Polisen

Li recentemente as reportagens sobre o menininho de 3 anos que foi baleado na tijuca pela polícia e cujo carro da mãe foi alvejado como um queijo Suiço pela polícia. Um dos meus melhores amigos viu o menino ser retirado do carro coberto de sangue.



No mesmo dia da tragédia dessa família, eu estava no McDonalds e na minha frente na fila estavam três policiais suecos. Como eles ainda estavam escolhendo, me deixaram passar a frente com muita educacão. Enquanto eu devorava a minha bomba de comida química, estava olhando os três em uma mesa próxima.



Eram dois homens e uma mulher. Um deles era bem loiro de cabeça raspada e mais ou menos 1,85m. O outro era mais moreno, tinha barba cheia e um braco coberto de tatuagens. A terceira tinha mais ou menos a minha idade (26 anos pra quem não sabe) e era uma loira linda, mas com braços duas vezes maiores que os meus. E aqui não tem aquela babaquice da Inglaterra de ter policial desarmado nas ruas. Cada um deles tinha duas 9mm na cintura e um daqueles bastões elétricos.



Fiquei olhando os três e pensando na diferenca deles pra um PM que eu via sempre e ficava sempre na esquina da Rua Uruguai com a Conde de Bonfim, pertinho de onde o menininho foi baleado, e que sempre me causou asco. Era um PM com uma farda encardida e meio aberta no peito, uma barriga de cerveja enorme desafiando os botões, um cordão e uma pulseira bem grossas e bem douradas e um jeito nojento de andar e falar. Ele falava gracinhas pras meninas que passavam na rua saindo da escola e estava sempre dando uma de fodão pra cima dos camelôs ou dando uma de amigão pra cima dos chineses da pastelaria. Fico imaginando quanta cagada esse desgraçado não fez na “Corporação”. Quantas regras de conduta ele não infringiu só porque “ah, que babaquice isso” ou "Eu tenho mais é que pensar no meu. Farinha pouca, meu pirão primeiro".



Quando Marcelo Yuka foi baleado em frente ao prédio que eu morava na Tijuca (sempre a Tijuca), eu estava na janela do quarto dos meus pais e era uma noite quente e suarenta. Foram mais de 20 tiros e meu pai desceu pra ver o que estava acontecendo. Eu e minha mãe ligamos pra emergência pedindo uma ambulância quando ouvímos alguém gritar. O socorro ao Yuka demorou e demorou muito. Mas a polícia mesmo só apareceu pra dar o ar da graça 40 minutos depois do tiroteio. QUARENTA MINUTOS. Chegaram num gol velho caindo aos pedacos e com cara de “é, fazer o que, né?”.



Há alguns meses, estava num bar na zona sul de Estocolmo e uns bêbados começaram a brigar. Alguém ligou pra polícia e a briga nem tinha acabado e os canas chegaram. A polícia traz tanto respeito que todo mundo parou o que tava fazendo e ficou olhando a ação deles. Levaram os bêbados algemados e a festa continuou. E na boa, os caras parecem super-herois de tão grandes e fortes. Da vontade de cometer um crimezinho bobo pra passar uma noite do chilindró que eles trabalham...

Mas quase nunca se vê a polícia aqui. Às vezes vejo eles socorrendo um ou outro alcóolotra que caiu e se machucou ou não consegue chegar em casa. Parece trivial e um disperdício, sim, mas a Suécia está entre os países com a melhor polícia investigativa e mostra o respeito ao cidadão e o censo do dever de proteger, mesmo que seja um cachaceiro sujismundo.



Pesquisei na internet e o treinamento da polícia aqui dura um ano na parte teórica e depois 20 meses de treinamento e preparo intensivo pra sair nas ruas. Ou seja, são quase três anos de treinamento para se graduar como policial. É mais ou menos o mesmo tempo que um curso de graduação numa faculdade.



Não tenho certeza e não consegui achar a informação na internet, mas ouvi alguém me dizer que um PM no Rio tem 3 meses de treinamento antes de sair na rua pra defender o cidadão carioca...



Não me admira acontecerem essas cagadas como a do garotinho tijucano. Um policial carioca recebe 800 reais por mês, enquanto um policial sueco recebe o equivalente a 10 mil reais por mês.



Tudo bem que o tamanho dos países não se compara, mas o maior problema no Brasil, do meu ponto de vista aqui do norte, é que não há o menor interesse em mudar as coisas. Não vejo o MENOR interesse de ninguém nos jornais. E das vezes que eu fui ao Rio depois que me mudei pra cá, a impressão é que a cidade está apodrecendo de pobreza. Como um vírus corroendo a vida da cidade. As duas coisas que são democráticas no Brasil são pobreza e ignorância. Todo mundo tem acesso aos dois.



E pra ilustrar, duas imagens tiradas de jornais para comparar os digníssimos oficiais da lei, pagos pelos nossos impostos pra nos proteger.



Policiais suecos prendendo jovens brigando após um jogo de futebol.





Polícias suecos investigando o sumico de uma garotinha. Viu? Tem trabuco aqui também.




Um PM no Rio, no pé de um morro carioca.




Pra quem quiser ler mais:
Polisen
PM do RJ



4 comments:

Doktorarbeitfest said...

É... Não dá nem para comentar. Com essa diferença de salário, com essa formação é complicado. O problema, que eu acho é que essas profissões são dignas na Europa. Você posde sustentar sua família, você é respeitado. Cada um tem um trabalho e isso é valorizado. No Brasil o trabalho não é valorizado, ser policial é sub-emprego, as pessoas só dão valor à universidade pelo título, não pelo ensino, e com isso universidades novas vão abrindo com uma qualidade deplorável e as velhas e tradicionais cada vez mais se tornam supermercados. O pior é isso, não satisfeito em funções chave virarem sub-emprego, o próprio diploma tem se banalizado. O resultado: tudo vira uma grande merda. Enfim, tem jeito não. Só reencarnar como pescador num ailha da Grécia porque nem como monge tibetano pode mais se ter sossego.

Bruna Axt said...

É Aparício...
Incrível seu post. Triste e revoltante. Como bem o Felipe falou, aí na Europa qualquer profissão é digna pois se vê valor no trabalho. Aqui no Brasil qualquer coisa é qualquer merda.

Unknown said...

Somos nós mesmos os culpados....afinal, é nosso ou não o poder de voto?
*não vejo a hora de me mandar daqui*

Unknown said...

Cada sociedade tem a polícia que merece.