Músico + contrato = egotrip?




Um dos efeitos colaterais mais nocivos do music business nas pessoas é a intoxicação pelos gases produzidos pela fogueira de vaidades desse meio. Não importa o nível de responsabilidade ou a exposição, do roadie ao empresário, do artista ao responsável pelo catering, passando pelos produtores, é bem comum ouvir os profissionais da música se gabando disso ou daquilo e tentando provar sua importância na gig, na empresa, na vida daquele artista.

Muita gente acredita que é importante você fazer seu marketing pessoal se você quer "nadar com os tubarões", mas talvez seja apenas uma forma de se impor certo glamour no trabalho nada glamuroso da estrada.

Eu já ouvi algumas vezes, de artistas diferentes, a máxima que eu acho extremamente importante que se repita como um mantra de vez enquanto. Neil Young sabiamente disse no restaurante VIP do festival "Ego is the artist's worst enemy. The most dangerous king of evil.". E não é? O Ego faz o artista (qualquer um, mas principalmente o artista) perder a perpectiva do que é importante, de onde está o objetivo e de quem ele é e quem são as pessoas com quem contar.

Eu tive a sorte de trabalhar com alguns dos artistas mais humildes que eu já vi, como D2, Pitty e principalmente Dave Grohl e Neil Young. Todos lendas, guardadas suas proporções e geografia.

No entanto, eu recentemente esbarrei num caso curioso. Um artista que trocou de personalidade sem ao menos ter alcançado sucesso. Conseguiu uma ótima banda pra tocar com ele, um amigo pra encaminhar a demo dele a gravadora e de repente *pliM* tudo mudou. Namorada nova, roupas novas, atitude nova, equipamento igual ao do Metallica sem nem mesmo ter saído em turnê, ever. E o pior, a humildade, o senso de realidade e os laços de amizade se afrouxaram.

Trocou a namorada moça de família bonitinha que cuidava dele quando estava doente por uma bad girl turbinada, que não come, fuma e bebe e só sai com rockstars. Chegou nas reuniões com atitude, colocando pé na mesa, mas esqueceu de dar nome aos bois quando fez agradecimentos em seu disco, afinal, priorizando as coisas. Se veste com a pompa e circunstância de fazer gosto a Constanza Pascolato, mas não pensa em ajudar os membros de sua banda que para poderem estar disponíveis para trabalhar com ele não tem como pagar o aluguel. Perde tempo se defendendo de ataques vazios contra ele na internet mas não corre atrás de achar shows em qualquer buraco que respire um pouquinho de música e constrói assim um castelo de areia pequeno e falido.

O mercado musical é cruel porque vende ondas invisíveis que se propagam no ar, reproduzidas por disquinhos ou aparelhinhos coloridos. É impossível prever se um artista vai ser um hit e estourar nas rádios. Principalmente em um momento histórico tudo muda com rapidez e o mundo todo acabou de ver o impossível acontecer: um presidente negro nos Estados Unidos e o dinheiro do mundo simplesmente desapareceu. Mas é possível sim dizer que com muito trabalho (mas muito mesmo) alguns artistas acham o caminho da luz, a estrada de tijolos gastos mas ainda douradinhos. Afinal, não é segredo que a música é apenas 50% (no máximo) do caminho pro sucesso no mercado como é hoje.

Mas uma coisa é certa, o mercado não perdoa. E muitos artistas chegaram como promessas, como "the new big thing" e afundaram no mar de lançamentos com o peso enorme de um contrato amarrado aos pés, sem nem ao menos terem sentido o gostinho do sucesso.

A verdade é que na vida, como no mercado musical, é preciso ter uma boa dose de humildade para ter o merecimento ao sucesso e reconhecer que sozinho você não chega lá. O sucesso é uma equação delicada na qual qualquer incógnita mal calculada te leva ao resultado amargo do esquecimento.


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A Camp - Nina Persson está de volta




Lembra do The Cardigans? Daquela música hiper grudenta "Love fool", "My Favorite Game" e "Erase and Rewind"? Uma banda sueca liderada por Nina Persson e sua carinha de Kirsten Dunst em Entrevista com o Vampiro? Ela está de volta, mais velha, madura e mais indie com sua banda nova, A Camp, lançando o ótimo Colonia.

A Camp é um projeto solo bem-sucedido transformado em banda. O primeiro disco sinceramente não me diz nada. Acho até chatinho tirando "Song for the Leftovers." que é legal.

Colonia no entanto aqui foi um boom imediato na mídia, causando alvoroço sobre a moça de novo. Nina Persson descreve a banda como: "Girl-pop from the 60s, 80's punk and David Bowie". E é bem por aí. O primeiro single, "Stronger Than jesus" parece um daqueles clipes que o Videoshow mostra, do túnel do tempo. A produção do disco ficou a cargo de Mark Linkous of Sparklehorse e mistura tecnologia de gravação com instrumentos vintage e coroa a onda retrô que assola o hemisfério norte.

A formação do trio também conta com Niclas Frisk e Nathan Larson. Todo mundo com nome começado com N pra fazer real o sonho de gravadoras fãs de numerologia. Aí no Brasil o disco deve ser lançado pela Universal, a gravadora oficial deles.





O Clipe é tão retrô que até o sutiã dela deve ter sido comprado em brechó. Atenção pro formato no vídeo.


Ao vivo no Grammy sueco



Uma entrevista pro Daily Telegraph:



E pra provar que ela e a Kirsten Dunst são quase gêmeas:






Site oficial da banda: http://www.acamp.net/




Enjoy.


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Adultescência

Quando é que uma pessoa se torna adulta? Eu não sei. E nesse momento o fato de não achar a resposta me pertuba um pouco e me peguei divagando comigo mesma sobre essa questão besta.

Quando você é menina e tem sua primeira menstruação, aquele sangramento marca a sua passagem para um outro estágio da vida; você vira uma mulher. E mesmo que ainda não possa tomar suas decisões, seu corpo está pronto para gerar uma nova vida, para se reproduzir. No meu caso, aconteceu aos dez anos e eu sabia o que significava aquilo, mas na hora achei muito estranho, a começar pela cor e pelo incômodo de um absorvente. Não me senti nada "mulher". Afinal, tinha um tijolo de algodão entre as pernas que mais lembrava uma fralda e minha família ria e contava o acontecido ao telefone até para a atendente da pizzaria.

Você vira adulto quando passa a pagar suas contas? Quando alcança independência financeira? Quando sai da casa dos seus pais e deixa o ninho com um cômodo vazio, saindo da segurança debaixo da asa materna para um vôo solo? Conheço gente que saiu de casa aos 15 anos e ainda tem inseguranças de uma criança e outros que com 30 anos ainda moram com os pais e também como uma criança não sabem nem como dobrar sua roupa.

Ouvi um médico num programa de TV sem muito propósito dizer que considera-se que uma pessoa saiu da adolescência quando ela deixa de ter a necessidade de dormir dez horas por noite. Eu atualmente durmo onze horas sem nenhum problema. Também não acho que isso faça alguém um adulto ou não. Crianças e adolescentes dormem mais porque o hormônios de crescimento atuam e são expelidos com mais eficiência durante o sono. Então quando você para de crescer, biologicamente você é um adulto? Pode ser.

Mesmo assim, diz a sabedoria popular que homens são meninos com brinquedos mais caros. Carros, motos, armas, televisões, telefones, computadores ou outros objetos são as distrações preferidas de homensdos 30 aos 100 anos. Eles continuam a colocar nesses objetos projeções de quem eles gostariam de ser. Assim como mulheres colocam seu dinheiro em jóias, roupas, cirurgia plástica etc, na tentativa de imitar a princesinha que elas sonhavam em ser quando crianças?

Outras pessoas agem como se a responsabilidade de ter um filho as fizesse especiais, mais adultas. Seria então a maternidade e a paternidade o marco da idade adulta? Quando você gera outra vida a sua atinge o pique da maturidade? Ou ter filhos elimina os sonhos infantis remanescentes e você passa a lidar apenas com o que é mais importante na vida? Ser adulto é se focar no que é mais importante na vida e não perder tempo com futilidades? Aceitar as responsabilidades como parte do dia-a-dia e ter alguma idéia do que você quer pra sua vida me parece um bom começo.

Eu por exemplo estou achando esse post muito adulto, sem fotos, videos, músicas ou piadinhas. Mas com tantos pontos de interrogação, meu bilhete para a vida adulta ainda deve estar comprometido. Então melhor ficar por aqui.


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